O que é mito e verdade no tratamento da doença de Alzheimer

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  • A prevalência do Alzheimer está em ascensão devido ao envelhecimento acelerado da população. São estimados 55 milhões de casos no mundo e 2 milhões no Brasil, onde a projeção é de 6 milhões até 2050. A complexidade da condição e a falta de uma cura definitiva abrem espaço para inúmeras soluções comerciais que prometem mais do que podem entregar. Conversamos com o geriatra Marcos Cabrera, professor na Universidade Estadual de Londrina, sobre como lidar com o Alzheimer sem se enganar com falsas promessas.

     

    Marcos Cabrera viu o próprio pai desenvolver Alzheimer precocemente. Se formou médico quando ainda não havia clareza quanto as causas da doença e os primeiros medicamentos chegavam ao mercado. Os mesmos usados ainda hoje, 30 anos depois. O geriatra vê com preocupação a busca por soluções milagrosas, comportamento que leva muita gente a prejudicar ainda mais a saúde e gastar muito dinheiro.

    Com a ausência de uma cura definitiva, muitas soluções milagrosas surgem, prometendo mais do que podem cumprir. Ele critica duramente as ofertas comerciais que exploram o desespero de pacientes e familiares, muitas vezes levando-os a abandonar tratamentos comprovados em favor de alternativas sem base científica.

    “São muitas pessoas em busca de cura, como a medicina ainda não tem essa solução para oferecer, elas acabam aderindo a tratamentos caros e ineficazes, como dietas restritivas propagandeadas em livros que vendem muito no mundo inteiro, por exemplo.”

    Cabrera  enfatiza que, embora o Alzheimer não tenha cura, é possível, em muitos casos, viver anos com a doença em evolução lenta, graças ao cuidado adequado e à medicação apropriada. O estilo de vida saudável é determinante para reduzir o risco de desenvolver Alzheimer e parte fundamental do tratamento daqueles que têm o diagnóstico. Isso inclui exercícios físicos regulares, alimentação balanceada, desafios cognitivos constantes, qualidade do sono, interações sociais, e evitar tabagismo e consumo excessivo de álcool.

    “O foco do tratamento hoje não é a cura, mas sim a desaceleração do processo degenerativo do cérebro para manter a  qualidade de vida pelo maior tempo possível, assegurando dignidade aos pacientes até o fim.”

    Cautela com soluções sem comprovação científica

    O especialista recomenda cautela com o investimento no uso do canabidiol (CBD), um composto a base da planta Cannabis sativa. “Ouço relatos frequentes de pacientes animados com notícias de que o CBD melhora significativamente o  Alzheimer. Não é verdade, as pesquisas estão avançando, mas até o presente momento não há comprovação de que a droga desacelere a doença, muito menos que ajude a recuperar a memória. O cannabidiol impacta no comportamento, pode ser indicado em casos de pacientes que apresentam agitação e por vezes são agressivos, nesse aspecto é interessante porque o CDB não tem os efeitos colaterais de remédios tranquilizantes.”

    O médico também desmistifica várias crenças populares, estimuladas por interesses comerciais, sobre o tratamento do Alzheimer. Como dietas milagrosas e suplementos ineficazes em relação à demência. Como exemplos, cita o Ginkgo Biloba, planta usada para a melhora da circulação sanguínea; e a cúrcuma, raiz altamente consumida na Ásia, com potencial anti-inflamatório e antioxidante. “Ginkgo Biloba é bom pra zumbido no ouvido, mas não melhora Alzheimer. Cúrcuma é bom pra saúde, mas não melhora Alzheimer,” afirma claramente.

    Qual é o tratamento comprovado para doença de Alzheimer?

    Cabrera explica que o tratamento comprovado disponível para Alzheimer está baseado em administração de medicamentos inibidores da colinesterase (Rivastigmina, Galantamina e Donepezila), que atuam aumentando os níveis de acetilcolina no cérebro. A acetilcolina é um neurotransmissor crucial para a memória e aprendizado, e sua diminuição está associada aos sintomas da doença de Alzheimer. Portanto, aumentar sua disponibilidade pode ajudar a aliviar ou estabilizar os sintomas relacionados à memória e cognição em pacientes com Alzheimer. Esses medicamentos, estão no mercado há décadas e são fundamentais no controle da doença.

    Para o médico, cabe aos  profissionais de saúde, em grande parte,  a missão de conscientizar e  desmistificar o olhar sobre a demência. Enquanto as pesquisas avançam, o mais eficaz continua sendo um estilo de vida saudável, o uso criterioso de medicamentos existentes, e a busca por atividades que estimulem o cérebro e promovam bem-estar.

    “O Alzheimer vai evoluindo e piorando. Se a gente consegue desacelerar, já está ótimo”, pontua o geriatra, destacando a importância de ajustar as expectativas em relação ao tratamento. “Apesar de avanços significativos na compreensão da doença, a cura ainda está fora de alcance, e o foco deve ser na qualidade de vida.”