Reabilitação em demências é um cuidado essencial e um direito de todas as pessoas
A reabilitação em demências é um tema que desperta cada vez mais atenção, especialmente quando se fala em preservar a qualidade de vida e a autonomia de quem vive com a condição. No webinar “Reabilitação e Demência: Perspectivas Globais, Nacionais e Pessoais”, promovido pela Alzheimer’s Disease International (ADI) em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 21 de janeiro, especialistas de várias partes do mundo trouxeram reflexões inspiradoras e práticas inovadoras para este cenário.
Chris Lynch, vice CEO da ADI, abriu o evento apontando a necessidade de tornar a reabilitação acessível para todas as pessoas. Hoje, muitas vezes é responsabilidade do indivíduo buscar esses serviços, quando deveria ser uma oferta natural nos sistemas de saúde. “Precisamos mudar essa dinâmica para que a reabilitação seja proativamente considerada como parte do suporte em saúde comunitária”, afirmou.
Alexandra Rauch, consultora da OMS, reforçou que a reabilitação é um direito essencial, especialmente para pessoas com demência e explicou como intervenções baseadas em evidências podem otimizar a funcionalidade, reduzir incapacidades e apoiar cuidadores. No entanto, ela também alertou que a falta de profissionais especializados é um desafio global. Hoje trazemos um apanhado sobre experiências e soluções ao redor do mundo apresentadas por especialistas.
A professora Yun-Hee Jeon, que há 25 anos pesquisa o envelhecimento saudável na Universidade de Sydney, na Austrália, falou sobre como elevar a qualidade do cuidado destacando a importância de uma abordagem holística na reabilitação. “A reabilitação não é sobre um clínico oferecer informações, mas sim sobre colaboração. O mais importante é definir metas e estratégias individuais. É um trabalho multidisciplinar, de avaliação abrangente. O monitoramento deve ser contínuo para que seja possível entender quais serão os próximos passos diante das mudanças que vão surgindo.”
Para a especialista, é essencial considerar não apenas as limitações físicas, mas também aspectos sociais e emocionais. Jeon apresentou exemplos como o Programa Interdisciplinar de Reabilitação Domiciliar, que oferece intervenções personalizadas conduzidas por equipes multidisciplinares, com resultados promissores na melhoria da qualidade de vida. A especialista também alertou: “Ainda há uma grande lacuna de conhecimento nesta área. A reabilitação em demências ainda não está em primeiro plano e não podemos aceitar isso”, comentou.
Já a médica Jennifer Bute, diagnosticada com demência e defensora ativa dos direitos das pessoas que vivem com essa condição, compartilhou sua experiência pessoal ao criar grupos de memória. Usando atividades simples como leitura, escrita e aritmética, ela ajudou participantes a recuperarem a confiança e habilidades cognitivas. “É incrível como pequenas mudanças podem fazer uma grande diferença”, afirmou. Ela também destacou que a reabilitação não deve ser interrompida, mas ajustada conforme as necessidades de cada pessoa. “Você não desiste de alguém. Não precisa ser o tempo todo, todos os dias, mas até pessoas acamadas podem ser reabilitadas”, disse. A médica compartilhou os princípios que baseiam o seu olhar em relação a reabilitação em demências: “Primeiro, há sempre uma razão para o que alguém diz ou para a maneira como se comporta. Segundo, os sentimentos permanecem quando os fatos são esquecidos e isso é muito importante. Em terceiro lugar, devemos dar atenção aos padrões, por exemplo, o modo que aprendemos coisas novas quando somos crianças”, completou.
A terapeuta ocupacional e professora Elaine Hunter, da Alzheimer Escócia, apresentou soluções integradas ao sistema de saúde pública da Escócia, como a terapia cognitiva domiciliar e o programa Jornada Através da Demência, baseado em terapia ocupacional realizada em grupos, que acontece em comunidades locais. O programa foi cocriado com pessoas que vivem com demência e profissionais da área, com foco em promover conexões sociais e apoiar os participantes a retomar atividades significativas. Ambas as iniciativas têm como objetivo conectar pessoas com demência às suas comunidades e promover a autonomia por meio de suporte personalizado. A entidade sem fins econômicos estimula o voluntariado, oferece muita informação, plantão de atendimento por telefone e eventos o ano todo.
Tecnologia como aliada
Uma questão debatida foi o papel da tecnologia e do suporte remoto por meio de plataformas digitais na reabilitação. Yun-Hee Jeon mencionou que estratégias digitais para cuidados a distância já são usadas com sucesso em áreas remotas da Austrália, permitindo que equipes multidisciplinares ofereçam suporte a distância. Embora o contato presencial seja ideal, Jeon destacou que ferramentas digitais podem preencher lacunas onde os recursos são limitados.
Educando para o futuro
Um dos pontos centrais do evento foi a necessidade de educar profissionais de saúde, cuidadores e famílias sobre o impacto positivo da reabilitação. Alexandra Rauch enfatizou que é urgente fortalecer a força de trabalho global, aumentar a conscientização e garantir que as intervenções baseadas em evidências sejam incluídas nos sistemas de saúde.
O caminho adiante
O webinar deixou uma mensagem clara: a reabilitação é uma oportunidade de transformar vidas, mas ainda há um longo caminho a percorrer. Como afirmou Chris Lynch, “a reabilitação em demências é uma questão de justiça social”. As iniciativas compartilhadas durante o evento são exemplos práticos que podem inspirar ações locais e globais.
Também queremos ouvir você: quais experiências já teve com programas de reabilitação? Compartilhe sua história conosco e ajude a tornar essa conversa mais interessante!
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