Elaine Mateus: “O tempo de agir é agora. Já estamos atrasados!”

Federação Brasileira das Associações de Alzheimer

Num discurso franco e contundente, diante de autoridades de saúde pública e especialistas, a Dra. Elaine Mateus, presidente da Federação Brasileira das Associações de Alzheimer (Febraz), fez mais um alerta sobre a urgência em implementar soluções em relação às demências, na última sexta-feira, 20 de setembro, em Brasília,

Profundamente conectada à realidade de quem vive o dia a dia com demências no Brasil, a pesquisadora e ativista social foi convidada a falar no evento “Cuidado Integral às Pessoas Idosas na Atenção Primária à Saúde – Um Olhar sobre a Demência e a Saúde Mental no Envelhecimento”, realizado pela Organização Panamericana da Saúde (OPAS) e Organização Mundial da Saúde (OMS).

Elaine Mateus compartilhou sua experiência de uma década de cuidados com sua mãe, que viveu com a doença de Alzheimer até seu falecimento. O evento, foi marcado pelo lançamento do Relatório Nacional sobre Demências, apresentado pela pesquisadora Cleusa Ferri, que atualiza os dados sobre o impacto da doença no país.

Para além dos números, Elaine Mateus trouxe à tona histórias reais, como a de sua própria jornada como filha e cuidadora. “Minha história não é única; ela se repete em milhares de lares brasileiros, onde o diagnóstico chega tarde, e as famílias, sem orientação e suporte adequado, ficam desamparadas”, afirmou com emoção.

Elaine reforçou que a demora no diagnóstico é um dos maiores desafios. “No Brasil, em média, leva-se dois anos para se diagnosticar a demência. Dois anos podem parecer pouco, mas, para uma pessoa vivendo com Alzheimer, é tempo demais. Muita coisa que poderia ter sido feita, não foi. E isso precisa mudar.”

Elaine destacou que o abandono não é apenas institucional, mas social. “O estigma não é algo que simplesmente existe. Ele é construído por nós e, dia após dia, reforçado por práticas discriminatórias. Isso afeta o direito ao diagnóstico, ao tratamento e ao cuidado.

Ela também lembrou que a luta pelo cuidado integral e de longo prazo para pessoas com demências é urgente. “Precisamos de um plano nacional em demências, que considere as famílias e as pessoas que vivem com demência. O tempo de agir é agora”, enfatizou. E completou: “A sociedade civil está super pronta para auxiliar na criação desse plano nacional. A Coalizão Nacional pela Demência, lançada neste mês de setembro, está pronta para colaborar com o governo na construção de políticas eficazes. Estamos apenas esperando o momento em que seremos chamados para sentar à mesa e, juntos, apresentar ao Brasil a resposta que tanto buscamos.”

O evento contou ainda com a presença de especialistas como a Dra. Lígia Gualberto, coordenadora da Saúde da Pessoa Idosa no Ministério da Saúde, apresentando plano para o diagnóstico de demência e debatendo a promoção da saúde mental e a superação de estigmas na população idosa.

Assista o discurso de Elaine Mateus na íntrega: