Donanemabe: novo tratamento para Alzheimer vai ser disponibilizado pelo SUS?

Federação Brasileira das Associações de Alzheimer

por Leandro Minozzo

Com a aprovação recente para o uso comercial no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), o donanemabe não tem previsão para ser disponibilizado pelo SUS. Após a divulgação da notícia que há um novo recurso terapêutico para a doença de Alzheimer, muitas pessoas que vivem com a doença e seus familiares buscaram informações sobre eficácia, segurança, custos e possibilidade do SUS a distribuir, assim como faz com outros quatro medicamentos (donepezila, rivastigmina, galantamina e memantina). Isso mesmo: o SUS já disponibiliza tratamento sintomático para Alzheimer de maneira gratuita!

E, em relação ao donanemabe, quando isso acontecerá?

Acredito que não será no próximo ano. Para que um medicamento seja disponibilizado pelo SUS, há uma série de etapas técnicas rigorosas que avaliam eficácia, eficiência, aspectos logísticos e custo. Por ser ainda um medicamento novo e de aprovação recente (foi aprovado pelo órgão regulador dos EUA em 2024), é esperado que essa análise para incorporação no SUS tome algum tempo. Mesmo com a aprovação da ANVISA, há uma série de pontos clínicos e de pesquisa que ainda geram discussões sobre o impacto dos anticorpos monoclonais para amiloide, classe da qual o donanemabe faz parte.

Alguns aspectos são relevantes ao responder diretamente essa pergunta, como por exemplo, será que o SUS tem a estrutura necessária para fazer o diagnóstico precoce de pessoas com transtorno cognitivo leve ou de demência por Alzheimer na fase inicial? Há recurso e logística para realização do exame neurológico chamado de PET-amiloide nas pessoas com sintomas? E os exames de ressonância magnética periódicos e as consultas com especialistas em demência, estão também acessíveis? As respostas todos sabemos que são negativas. Há um caminho ainda a trilhar para mudarmos esse cenário.

E o que devemos fazer enquanto o processo de análise do donanemabe tramita pelas instâncias reguladoras do SUS?

Provavelmente, os estudos de fase 4, ou seja, após o início da comercialização dos novos medicamentos, trarão informações clínicas importantes nos próximos anos e dúvidas atuais serão esclarecidas. Até lá, enquanto sociedade, temos a urgência da elaboração do Plano Nacional de Demências por parte do Ministério da Saúde. Há cerca de um ano, tivemos a sanção da Lei Nacional de Alzheimer e outras Demências (n. 14878/24), da qual fui um dos idealizadores, em conjunto com a FEBRAZ.

Ainda temos muitas dificuldades em fazer o mais simples e necessário em relação ao diagnóstico e ao cuidado em demências e, sem a colocação do Plano Nacional de Demências em prática, como orienta e obriga a Lei, teremos um cenário pior a cada dia.

Acredito que a incorporação de novas tecnologias para o diagnóstico e para o tratamento serão positivas quando fizerem parte de uma forma de cuidado organizada, com profissionais bem capacitados e com tempo para fazer os atendimentos de forma humanizada e quando os familiares e cuidadores fizeram parte do processo.

O donanemabe vai ser disponibilizado pelo SUS? E quando?

Não tenho as respostas. Sei que não será no próximo ano e que, até que uma decisão seja tomada, precisamos lutar por uma mudança ampla na forma que cuidamos das quase 2,4 milhões de pessoas com demência no país

Leandro Minozzo

Médico geriatra associado da SBGG, Prof. de Geriatria da Univ. FEEVALE. Mestre em Educação. Pós-MBA em Liderança. Doutorando em Gerontologia Biomédica. Autor de livros sobre longevidade e Alzheimer. Advocacy em demências. É um dos coordenadores da Conade (Coalizão Nacional em Demências). Idealizador do Plano Estadual de Cuidado Integral de Demências (PECID) do RS.