Enchentes trazem novos desafios para famílias que convivem com demência no Rio Grande do Sul

Federação Brasileira das Associações de Alzheimer
  • As enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul agravaram dramaticamente as dificuldades enfrentadas pelas famílias que convivem com Alzheimer e outros tipos de demência. A destruição causada pelas águas, a mudança no ambiente, nas rotinas e a perda de medicamentos têm imposto desafios adicionais diários. Retomar a normalidade ainda levará tempo.

    O geriatra Leandro Minozzo e Silvana Lamers, psicóloga e presidente da Associação Brasileira de Alzheimer do Rio Grande do Sul (Abraz/RS), nos trazem relatos graves e comoventes sobre a situação.

    Leandro Minozzo compartilha as dificuldades enfrentadas por pessoas que vivem com demência que ainda não voltaram para casa. “Muitos pacientes com demência perderam suas casas ou tiveram suas casas tomadas pela água. As famílias estão passando por momentos muito difíceis, enfrentando a perda de um patrimônio construído ao longo de toda a vida. Além disso, estão lidando com o estresse de ter que tomar a decisão de sair de casa de uma hora para outra e se mudar para outro lugar, ficando em situação de risco e vulnerabilidade.”

    Ele também destaca o impacto emocional e comportamental nessas pessoas e o elevado nível de estresse sobre os familiares cuidadores. “As pessoas que vivem com demência estão confusas, não sabem onde estão e querem voltar para casa. Muitas apresentaram alterações de comportamento. O nível de estresse dos familiares está muito alto, pois, além de cuidar, eles estão tendo que lidar com outros aspectos da vida em uma situação de tragédia e frustração. Nesse meio tempo, eles têm que exercer o cuidado da melhor maneira possível.”

    A demanda para os profissionais de saúde aumentou significativamente. “Isso inclui tanto os voluntários quanto os profissionais que atendem diretamente nos abrigos e unidades de saúde. Observamos um aumento na procura por orientação, questões burocráticas, receitas médicas e suporte para alterações de comportamento, que se intensificaram. Tenho destacado para todos a importância de melhorar a comunicação durante esta crise, para que a pessoa com demência não se sinta ainda pior.”

    Minozzo ainda ressalta a gravidade da situação e os desafios enfrentados pelo sistema de saúde. “A situação é muito ruim e pode demorar mais algumas semanas para se estabilizar. É importante considerar onde essas pessoas estão e como estão sendo alimentadas. O sistema de saúde no Rio Grande do Sul enfrenta uma série de dificuldades, que já existiam antes das enchentes. Estamos lidando com um surto de dengue e um aumento nas doenças infecciosas respiratórias, além das dificuldades logísticas causadas por estradas bloqueadas.”

    Ele destaca a necessidade urgente de aprimoramento de instrumentos públicos para socorrer a população mais vulnerável. “Ainda faltam instrumentos públicos permanentes de atenção aos idosos com fragilidade, que possam agir de maneira preventiva e rápida em crises como esta. Demorou mais de duas semanas para a sociedade se perguntar nesta crise, onde estão as pessoas que vivem com demência? Como elas estão?”

    Silvana Lamers detalha a situação enfrentada pelas famílias e instituições que cuidam de pessoas com demência, as ILPIs. “Todos nós, de alguma maneira, estamos tentando voltar às nossas atividades de forma lenta e gradual, mas ainda empreendendo todos os movimentos de solidariedade para que possamos, de alguma maneira, amparar e superar os desafios que surgiram. Estamos percebendo agora, mais forte do que no início, os verdadeiros estragos da situação, principalmente dentro das instituições de longa permanência, que são lugares de amparo para pessoas que vivem com demência. Dentro do contexto familiar, muitas famílias estão angustiadas neste processo de luto coletivo que estamos vivendo.”

    Ela também menciona os principais desafios no momento. “Enfrentamos muitos desafios, especialmente na questão logística. Muitos grupos estão saindo de Caxias do Sul, onde eu estou, para contemplar as instituições que agora buscam o apoio de voluntários. A Abraz está auxiliando nesse processo de reconstrução, principalmente na ordem de medicamentos e manejo. O manejo dentro da angústia e do luto é algo desafiador, então estamos aqui, cada um da sua maneira, buscando acolher e proporcionar não só itens de primeira necessidade, mas também acolhimento afetivo e um olhar multiprofissional para que essas pessoas possam estar amparadas.”

    Silvana prevê que os próximos meses serão ainda mais desafiadores. “A verdadeira magnitude desse caos todo será mais evidente nos próximos meses, quando, além das águas baixarem, começarmos a contabilizar os prejuízos comerciais, que impactarão diretamente no cuidado e na qualidade de vida dos portadores de demência e de suas famílias. A Abraz tem atuado como apoio. As doações estão sendo direcionadas para os núcleos de Porto Alegre e Caxias do Sul. Nossos médicos voluntários, junto com a SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia), estão fornecendo consultas online e medicamentos para as pessoas que foram vítimas das enchentes.”

    Para mais informações, você pode entrar em contato com a Abraz/RS pelo WhatsApp +55 51 9660-6946.

Fotos: Rafa Neddermeyer / Agência Brasil