É durante uma conversa sobre futebol, uma lembrança da novela preferida ou o refrão de uma canção antiga que algo extraordinário acontece. Pessoas com Alzheimer e outras demências reconectam-se com sua história, com quem está ao lado, com o mundo. É isso que propõe o Revivendo Memórias, criado em São Paulo, em 2017, e hoje reconhecido por seu potencial transformador no campo do cuidado não farmacológico.
O Revivendo Memórias começou como um projeto de pesquisa idealizado por Carlos Chechetti — profissional com formação em administração, cinema e neurociência aplicada — e evoluiu para se tornar uma ONG atuante na formação de equipes e na criação de experiências significativas com foco na memória afetiva e no bem-estar de pessoas com demência.
Inspirada em iniciativas do Reino Unido, especialmente na Escócia (Football Memories Scotland), a metodologia do Revivendo utiliza paixões pessoais — como o futebol, a música, o cinema e a literatura — como chaves de acesso à memória, à emoção positiva e à interação social. As ações se materializam em visitas mediadas, oficinas presenciais e encontros online.
Hoje, a ONG oferece capacitação para equipes de museus, ILPIs, centros culturais e outras instituições interessadas em aplicar sua metodologia.
A metodologia: Reminiscências das Paixões
Antes de cada encontro, a equipe do Revivendo Memórias realiza entrevistas com os participantes para mapear suas paixões — futebol, música, filmes, novelas, figuras históricas. A partir dessas pistas afetivas, são criadas atividades personalizadas que combinam memória, emoção e estímulo cognitivo.
O projeto utiliza imagens, músicas, vídeos e objetos simbólicos como ferramentas para despertar lembranças e abrir espaço para o diálogo e a socialização.
Durante a pandemia, em parceria com o Museu do Futebol, as reuniões passaram a ser realizadas por videoconferência, promovendo também inclusão digital. Com esse formato, o Revivendo alcançou famílias inteiras e permitiu que as atividades continuassem mesmo à distância.
“A metodologia do Revivendo Memórias parte do encontro entre ciência e paixão. De um lado, temos os elementos afetivos — como esportes e arte — que são como chaves para resgatar memórias e identidade. Do outro, usamos o conhecimento científico sobre estimulação cognitiva e a interação social que, por si só, já é uma terapia. O estigma sobre as demências leva ao isolamento; o Revivendo dá essa oportunidade de encontro, de escuta, de participação.”
— Carlos Chechetti, coordenador e idealizador do projetoParcerias e impacto social
Nascido em 2017 no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, o Revivendo Memórias tem utilizado o futebol como um poderoso recurso de estímulo à memória e ao afeto entre pessoas com demência. Desde 2019, conta com o Museu do Futebol de São Paulo como parceiro permanente — um dos núcleos mais ativos da iniciativa, onde narrações de jogos históricos e imagens marcantes funcionam como gatilhos de recordação.
Em 2024, com apoio da Universidade de Oxford, a ONG ganhou novos contornos e alcance, realizando treinamento e eventos em instituições culturais de referência em diversas cidades brasileiras. Em Belo Horizonte, foi acolhida pelo Inhotim — um dos maiores museus de arte contemporânea e jardins botânicos da América Latina. Em Ribeirão Preto, chegou ao Museu Casa Portinari; e, em São Paulo, realizou ações na Casa Guilherme de Almeida, com foco em literatura, no Centro Cultural Japan House e no Museu Catavento. Neste último, mais de 250 profissionais — incluindo equipes de atendimento ao público e direção — foram capacitados para acolher com empatia e oferecer experiências significativas às pessoas que vivem com demência. No borboletário e nos espaços aromáticos do Catavento, vivências sensoriais inesquecíveis marcaram a memória de todos os envolvidos.
Agora, em 2025, o Revivendo Memórias dá início a uma nova etapa no Museu da Língua Portuguesa — ampliando ainda mais as possibilidades de conexão entre cultura, identidade e cuidado.
Por que o Revivendo Memórias está no Mapa do Cuidado?
Porque promove cuidado centrado na pessoa, baseado em vínculos, escuta e emoção. Porque resgata o valor da memória afetiva e da cultura como formas de viver com dignidade. Porque humaniza espaços, transforma rotinas e mostra que há muito a ser vivido — mesmo diante da demência.
Quer participar? Conheça os caminhos:
ILPIs, museus e centros culturais interessados em receber o projeto ou formar suas equipes podem entrar em contato para agendar treinamentos. O próximo será realizado no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, no dia 27 de maio de 2025.
Cuidadores e familiares podem participar das ações online, realizadas em parceria com o USP 60+ e o Museu do Futebol.
Empresas e instituições podem patrocinar o projeto via Lei de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet), garantindo sua continuidade e expansão nacional.
ONG Revivendo Memórias – São Paulo – SP
Contato para inscrições, agendamentos ou patrocínio:
E-mail: carlos.chechetti@revivendomemorias.com.br
Instagram: @revivendo_memorias
Site: https://www.revivendomemorias.com.br/Fotos: Revivendo Memórias / Acervo