por Leandro Minozzo
Sabe o pai do seu amigo de infância? Aquela tia que parou de dar notícias? Ou mesmo o repórter do Fantástico, aquele do nome difícil de pronunciar? Maurício…Krublu.. não vou nem tentar pronunciar. Falando nisso, que interessante a série do próprio Fantástico sobre a doença. Parece que agora, nesses últimos anos, cada vez mais pessoas estão recebendo o diagnóstico – o número de casos disparou. O que será que está acontecendo? Nos últimos anos, quase todo mundo fala disso, especialmente quem tem mais de 50 anos ou cuida de alguém na família.
Já desconfiou sobre o que estou falando? Falo das demências, em especial da doença de Alzheimer. A impressão de que o número de casos vem aumentando é verdadeira. Temos, segundo estimativa de pesquisadores, 2,4 milhões de pessoas vivendo com demência no país; em alguns anos, provavelmente o dobro.
Continuo fazendo perguntas. Será que estamos conseguindo cuidar bem dessas pessoas? E, seus familiares, recebem algum tipo de suporte, apoio ou consideração? Pense um pouco. Você consegue dizer algo que governos fazem nesse sentido? De zero a dez, qual nota será que o Brasil receberia nessa capacidade de cuidado?
No meu ponto de vista, a situação é bastante precária e potencializadora de ainda mais sofrimento. Não. Não conseguimos cuidar bem das pessoas que vivem com demência e muito menos damos assistência digna a seus familiares. Pelo menos 70% dos casos de demência aqui no Brasil não tiveram ainda nem o mínimo, ou seja, o ponto de partida para um cuidado diferente, adaptado e que possibilita receber tratamento. 70% não receberam sequer um diagnóstico médico adequado. Esse dado, trazido pelo Relatório Nacional de Demências (ReNaDe, 2023), mostra o quanto precisamos evoluir para, enquanto sociedade, conseguirmos dar conta desse desafio que parece aumentar a cada dia.
No entanto, há algumas iniciativas recentes que podem ajudar a mudarmos essa situação. Os governos estaduais do Rio Grande do Sul e do Ceará, em 2024, lançaram programas para melhorar o cuidado em demência. O RS criou o Plano Estadual de Cuidado Integral em Demência (PECID), baseado na Lei 15.820/22, e o CE, a Linha de Cuidado em Demências. Essas iniciativas foram criadas de maneira participativa e plural. No caso do PECID, cerca de 30 entidades atuaram na construção dos objetivos e metas.
Em meio a esse cenário de demandas complexas, de estigma por todas as partes e com o crescimento de pesquisas apontando avanços tecnológicos, um caminho fundamental para melhorarmos o cuidado é o das políticas públicas. Trouxe dois exemplos importantes; há ainda outros, como a Lei 14.878/24, a Lei Nacional de Cuidado Integral em Alzheimer e Outras Demências. Na coluna aqui no site da FEBRAz, falarei sobre políticas públicas, o que tem sido feito aqui no país e em outros lugares, também sobre recursos que o próprio SUS poderia empregar em prol das pessoas que vivem com demência e seus familiares.
Falar sobre política pode, sim, ser construtivo, ainda mais quando queremos e precisamos construir uma realidade de cuidado diferente, melhor e para tantas pessoas. Uma realidade com um Plano Nacional de Demências em prática, que tire a lei apenas do papel.

Leandro Minozzo
Médico geriatra associado da SBGG, Prof. de Geriatria da Univ. FEEVALE. Mestre em Educação. Pós-MBA em Liderança. Doutorando em Gerontologia Biomédica. Autor de livros sobre longevidade e Alzheimer. Advocacy em demências. É um dos coordenadores da Conade (Coalizão Nacional em Demências). Idealizador do Plano Estadual de Cuidado Integral de Demências (PECID) do RS.