Equipe do GEPE – Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Envelhecimento da UERJ.
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Por Christina Mattos
O Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Envelhecimento (Gepe) do Instituto de Psicologia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) conduz uma pesquisa nacional sobre a saúde mental de cuidadores familiares de pessoas com Alzheimer. O estudo, aprovado pelo Comitê de Ética da universidade, é realizado por meio de um questionário online, disponível para cuidadores de todas as regiões do Brasil. É possível enviar respostas até o final de julho, acessando o formulário aqui .
O estudo investiga sintomas como estresse, ansiedade e depressão, além de sentimentos muitas vezes silenciados, como culpa, ambivalência e autocompaixão. Os dados servirão de base para o desenvolvimento de intervenções psicológicas específicas para quem cuida.
A Federação Brasileira das Associações de Alzheimer (Febraz) é parceira na divulgação do estudo e reforça a importância de escutar e valorizar a experiência dos cuidadores familiares — grupo frequentemente invisibilizado nas políticas públicas.
Podem participar brasileiros maiores de 18 anos que atualmente cuidam de um familiar com diagnóstico de Alzheimer. Ao final do questionário, os participantes recebem materiais informativos de apoio como forma de agradecimento.
A seguir, a entrevista com a professora Heloisa Ferreira, docente da UERJ e coordenadora da pesquisa.

Por que realizar essa pesquisa?
Profa. Heloisa Ferreira – Sabemos que a proporção de pessoas idosas com Alzheimer está crescendo no Brasil e em outros países. Quem assume esse cuidado, na maioria das vezes, são os familiares que, sobrecarregados, acabam adoecendo. Essa população é invisibilizada, o papel do cuidado é naturalizado. São pessoas que cuidam de um familiar em situação delicada de saúde, mas que também estão emocionalmente comprometidas.
A pesquisa surge da necessidade de mapear indicadores de saúde mental desses cuidadores familiares e propor intervenções psicológicas adequadas ao seu perfil. Sabemos que os desafios são muitos — e há impactos significativos na saúde emocional.
Nosso grupo de pesquisa estuda aspectos psicológicos do envelhecimento e queremos compreender essas interseções entre cuidado e saúde mental para propor, no futuro, formas de apoio mais efetivas. Com o envelhecimento acelerado da população e o aumento previsto de transtornos neurocognitivos, é essencial oferecer suporte a quem cuida.
Que resultados vocês esperam obter?
Profa. Heloisa Ferreira – O principal objetivo é mapear indicadores de saúde mental de cuidadores de pessoas que vivem com Alzheimer. Sabemos que sintomas como estresse, ansiedade e depressão são frequentes nesse grupo. Mas o diferencial da pesquisa é ir além desses sintomas e investigar sentimentos como culpa e ambivalência. Esses temas surgem em nossas intervenções com cuidadores e também aparecem em estudos internacionais, que indicam sua relação com níveis mais altos de depressão. No Brasil, esse recorte ainda é pouco explorado.
Outro ponto inovador é o foco na autocompaixão. Não queremos apenas entender por que os cuidadores adoecem, mas também o que pode protegê-los. Há estudos que mostram que pessoas com níveis mais altos de autocompaixão apresentam menos estresse, ansiedade e depressão. Queremos entender se isso também se aplica aos cuidadores familiares.
Pode falar um pouco mais sobre como sentimentos de culpa, ambivalência e autocompaixão impactam quem cuida?
Profa. Heloisa Ferreira – A autocompaixão é a capacidade de tratar a si mesmo com bondade, compreensão e aceitação, principalmente em momentos difíceis. Sabemos que cuidadores vivem situações desafiadoras, e acreditamos que desenvolver essa habilidade pode beneficiar tanto o cuidador quanto a qualidade do cuidado oferecido.
A culpa é um sentimento comum, ligado à sensação de estar falhando ou não fazendo o suficiente. Muitas vezes, vem acompanhada de perfeccionismo e autocrítica — o que é frequente entre cuidadores familiares.
A ambivalência é a presença simultânea de sentimentos positivos e negativos. Então é natural que a gente experimente carinho, amor por um familiar, e também experimente raiva, inveja, ódio, preguiça — tudo ao mesmo tempo.Esses sentimentos coexistem — não se anulam — e isso é algo que também observamos com frequência nesse público.
A psicologia costuma focar em estresse, ansiedade e depressão, e com razão — os índices são altos. Mas a saúde mental é mais complexa. Precisamos olhar também para o que pode protegê-la. Por isso, nossa principal aposta é investigar a autocompaixão.
Por que a coleta de dados é online?
Profa. Heloisa Ferreira – Escolhemos a coleta online porque queremos envolver cuidadores de todas as regiões do país. O Brasil tem realidades muito diversas, e queremos captar essa diversidade. Por isso também buscamos parcerias com instituições como a Febraz, para ampliar a divulgação e fazer com que a pesquisa chegue, de fato, a quem cuida. Sabemos que o formato online tem limitações — atinge, em geral, pessoas com mais escolaridade. Para contornar isso, aqui no Rio de Janeiro estamos fazendo convites presenciais, indo até os cuidadores para apresentar o estudo e ajudá-los no preenchimento do questionário.
Sobre a pesquisadora e o grupo de pesquisa
A professora Heloisa Ferreira é docente do Instituto de Psicologia da UERJ e coordena o Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Envelhecimento (GEPE), voltado à pesquisa e formação em temas ligados ao envelhecimento, com foco no cuidado familiar. A pesquisadora é também fundadora e atual vice-presidente da recém-criada Associação Brasileira de Psicogerontologia.
O grupo atua em duas frentes: produção científica e atividades de extensão, como cursos, estágios e oficinas para estudantes e profissionais da psicologia. Heloisa é também sócia fundadora e atual vice-presidente da Associação Brasileira de Psicogerontologia.
A pesquisa com cuidadores de pessoas com Alzheimer é uma das principais linhas de estudo do grupo e conta com financiamento da FAPERJ.
Participe da pesquisa
Prazo: até o final de julho
Link formulário: https://forms.gle/P8GDoNGQREgB3X4z5
Mais informações: gepe.uerj@gmail.com
Instagram: @gepe.uerj