Canetas da moda e o cérebro: o que sabemos (e o que ainda não sabemos) sobre os efeitos da semaglutida no Alzheimer

Federação Brasileira das Associações de Alzheimer

Por Lindsey Nakakogue – Médica Geriatra e Diretora Científica da Febraz

Muito tem se falado sobre os prováveis benefícios dos inibidores dos receptores do GLP-1 (glucagon-like peptide-1) para além da perda de peso e do tratamento do Diabetes Mellitus. Popularizadas como “canetas para emagrecer”, medicações à base de semaglutida (como Ozempic®, Wegovy® e Rybelsus®) estão entre as mais procuradas da atualidade, mas seus efeitos podem ir além da balança.

Estudos de grande escala identificaram uma redução na incidência da Doença de Alzheimer e de outras demências em pessoas que utilizam a semaglutida. Em três estudos clínicos rigorosos, os pesquisadores compararam grupos de pessoas com diabetes que usavam ou não a medicação e observaram que o grupo medicado apresentou menor risco de desenvolver Alzheimer. Esses estudos são chamados de ensaios clínicos randomizados — o que significa que os participantes foram sorteados em grupos diferentes, com e sem o uso do medicamento, permitindo uma comparação mais justa e confiável dos efeitos.

Além disso, pesquisas com modelos animais mostraram que os inibidores do GLP-1 podem atuar positivamente em diversos processos relacionados à doença de Alzheimer, como a redução da inflamação cerebral, do estresse oxidativo e do acúmulo de proteínas tóxicas no cérebro, como a beta-amiloide e a proteína tau.

Mas já podemos usar a semaglutida para prevenir ou tratar o Alzheimer?

A resposta é não.

Apesar dos sinais animadores, os dados ainda são preliminares. Não existe, até o momento, indicação médica ou autorização das agências reguladoras para o uso da semaglutida com a finalidade de prevenir ou tratar a Doença de Alzheimer.

Estudos clínicos específicos, como o EVOKE, estão em andamento para investigar se a semaglutida realmente funciona nesse contexto. Essas pesquisas vão ajudar a responder questões importantes, como a dose ideal, a duração do tratamento e, principalmente, a segurança do uso prolongado em pessoas com ou sem demência.

Por que é importante ter cautela mesmo diante de estudos promissores?

A ciência avança com entusiasmo, mas também com responsabilidade. Embora os dados iniciais gerem esperança, é importante lembrar que associação não significa certeza de causa e efeito. Ou seja: o fato de pessoas em uso da semaglutida apresentarem menos casos de demência não significa que o medicamento seja a causa direta disso. Outros fatores, como estilo de vida mais saudável ou controle melhor do diabetes, também podem ter influenciado esses resultados.

Além disso, o uso sem orientação médica pode trazer riscos. A semaglutida pode causar efeitos colaterais, como náuseas, distúrbios gastrointestinais e alterações metabólicas, e não deve ser usada de forma indiscriminada, especialmente em idosos ou pessoas com outras condições de saúde.

O que podemos fazer hoje para proteger o cérebro?

Enquanto a ciência segue investigando novas possibilidades terapêuticas, há muito que já podemos fazer. A prevenção de demências passa pelo controle de fatores de risco conhecidos, como hipertensão, diabetes, perda auditiva, problemas de visão,  obesidade, sedentarismo, depressão e isolamento social. Manter a mente ativa, preservar os vínculos sociais e cuidar da saúde global são atitudes importantes para proteger a saúde do cérebro.

A Febraz segue acompanhando os avanços da ciência e reafirma seu compromisso com a divulgação de informações claras, baseadas em evidências e centradas nas pessoas que vivem com demência e seus parceiros e parceiras de cuidado.