O envelhecimento da população, aliado ao crescimento expressivo dos casos de demência — que devem triplicar até 2050 —, impõe à sociedade um desafio cada vez mais urgente: proteger financeiramente as pessoas que vivem com Alzheimer.
O abuso financeiro pode ser silencioso, difícil de identificar e, muitas vezes, acontece justamente onde deveria haver cuidado e proteção: dentro do círculo familiar, entre cuidadores ou pessoas próximas.
O que é abuso financeiro?
É quando alguém se aproveita da fragilidade cognitiva ou emocional de uma pessoa para obter ganhos financeiros. Pode envolver desde o uso indevido de cartões e senhas, até alterações em testamentos ou transferências bancárias não autorizadas.
Segundo a Alzheimer’s Disease International (ADI), entidade da qual a Febraz faz parte, profissionais ao redor do mundo têm relatado um aumento consistente nos casos de abuso financeiro envolvendo pessoas com demência.
Sinais que merecem atenção
Muitas vezes, o abuso se manifesta de forma sutil: um presente caro dado a um parente próximo ou um cuidador que impede a pessoa de conversar sozinha ao telefone. Alguns comportamentos ou situações devem ser observados com cautela:
Assinaturas suspeitas em cheques ou documentos, especialmente quando a pessoa já não tem capacidade física ou cognitiva para assinar.
Contas atrasadas, mesmo após alguém ter assumido a responsabilidade pelas finanças da pessoa.
Registros financeiros ausentes ou mal organizados, quando outro indivíduo administra os recursos.
Mudanças inesperadas em testamentos que favorecem exclusivamente uma pessoa.
Empréstimos ou doações em grandes valores realizados por alguém com comprometimento cognitivo.
Compras ou gastos incompatíveis com o estilo de vida da pessoa, como equipamentos que ela não usa ou não precisa.
Por que é tão difícil perceber?
O Alzheimer pode afetar a memória, o julgamento e a capacidade de tomar decisões. Isso torna mais difícil para a pessoa identificar golpes ou fraudes. Além disso, a dependência de terceiros para tarefas cotidianas — como pagar contas ou acessar o banco — aumenta a vulnerabilidade.
Casos relatados à ADI em diferentes países revelam que familiares, cuidadores e até líderes religiosos se aproveitaram dessa fragilidade para obter vantagens — muitas vezes com o argumento de que “era isso que ela/ele gostaria”.
O papel do representante financeiro ou legal
Quem atua como representante financeiro de alguém com Alzheimer assume uma grande responsabilidade — não apenas moral, mas também legal. Por isso deve atuar boas práticas:
Manter registros detalhados de todos os gastos e decisões.
Buscar orientação jurídica ou contábil sempre que necessário.
Incluir a pessoa com Alzheimer nas decisões, sempre que possível, respeitando sua autonomia.
Planejar os custos futuros de cuidado, reservando recursos de forma prudente.
Como prevenir o abuso?
A prevenção começa com informação, planejamento e vigilância. Veja algumas recomendações:
✅ Estabeleça instrumentos legais adequados, como procurações ou curatelas, com assessoria profissional.
✅ Armazene testamentos, documentos e senhas em locais seguros.
✅ Compartilhe responsabilidades com mais de uma pessoa de confiança.
✅ Observe mudanças de comportamento — tanto da pessoa com Alzheimer quanto de quem a rodeia.
✅ Promova o diálogo na família sobre os cuidados e decisões financeiras.
O que fazer se houver suspeita?
Se você suspeita de abuso, mesmo que não tenha certeza, não ignore os sinais. Converse com outros familiares, busque orientação jurídica e, se necessário, denuncie aos órgãos competentes. Lembre-se: o silêncio pode perpetuar o sofrimento e o prejuízo.
A Febraz está comprometida com a defesa dos direitos e da dignidade das pessoas que vivem com Alzheimer. Conscientizar, orientar e apoiar famílias é parte essencial da nossa missão.