Cuidar da visão também é prevenir demência: o que revelam os estudos recentes

Federação Brasileira das Associações de Alzheimer
Por Lindsey Nakakogue

De acordo com o último consenso publicado pela revista The Lancet — uma das mais respeitadas publicações científicas do mundo na área da saúde —, existem 14 fatores de risco modificáveis para a demência. Ao atuar sobre todos eles, é possível reduzir em até 45% o risco de desenvolver a doença após os 50 anos. Um dos novos fatores acrescentados em 2024 é o déficit visual. Quando tratado isoladamente, esse fator pode reduzir em 2% o risco total.

Embora essa porcentagem pareça pequena, é altamente relevante. A prevalência de déficit visual entre pessoas idosas no mundo chega a 10% (segundo a OMS/GBD 2019) e, no Brasil, é de 9,2% (IBGE 2019). Estima-se que 80% das causas de perda visual poderiam ser evitadas.

A relação entre visão e cognição é plausível. Quando há comprometimento visual, menos informações chegam ao cérebro, o que afeta a memória visual. Além disso, muitas pessoas deixam de realizar atividades cognitivas — como leitura, palavras cruzadas ou crochê — quando não enxergam bem. Algumas também se sentem envergonhadas ou com medo de cair e acabam se isolando socialmente, o que é mais um fator de risco para a demência.

Mas será que melhorar a visão realmente ajuda a prevenir a doença?

Um estudo publicado em 2022 no JAMA acompanhou 3.038 pessoas idosas, com idade média de 74,4 anos, por cerca de 7,8 anos. A extração de catarata foi associada a um risco significativamente reduzido de demência (RR = 0,71; IC 95%: 0,62; P < 0,001), ou seja, uma redução de 29% no risco.

Portanto, campanhas de conscientização sobre doenças oculares não servem apenas para preservar a visão — elas também são uma importante estratégia de prevenção da demência.

Referências:
  • Livingston G, Huntley J, Liu KY, et al. Dementia prevention, intervention, and care: 2024 report of the Lancet standing Commission. Lancet. 2024 Jul 31. doi:10.1016/S0140‑6736(24)01296‑0

  • Lee CS, Gibbons LE, Lee AY, et al. Association Between Cataract Extraction and Development of Dementia. JAMA Intern Med. 2022;182(2):134–141. doi:10.1001/jamainternmed.2021.6990

Lindsey Nakakogue

Diretora Científica da Febraz, médica formada pela Universidade Estadual de Londrina com residência em Clínica Médica na Unicamp e especialização em Geriatria na USP-SP. Professora de Medicina na PUC Londrina, com Mestrado pela PUC-PR e Doutorado em Saúde Coletiva em andamento na UEL.